sábado, 2 de fevereiro de 2008

Maluco Beleza e a Natureza

Foi muito bom o começo do carnaval, em Friburgo. Como havia dito, começou com o bloco Maluco Beleza, que desfilou com enredo falando da proteção ao meio ambiente. A música focou o descaso das autoridades e da população, com relação ao Rio Bengalas, que corta a cidade e é um sério candidato a ser apenas um valão poluído, com seus ratos, bostas e otras cocitas mas, já que tudo desagua ali. Esse rio, que já teve peixinhos e era navegável, hoje não passa de uma recordação.
Por muitos anos ele mudou de cor, por conta das fábricas que tingiam seus couros e tecidos e os resíduos eram despejados no Bengalas. Sempre olhei aquilo com desconfiança. Um dia ele estava vermelho, noutro azul, hora amarelo, hora cinza. Passaram-se anos e esse efeito desembocou em 2008 com o ar sofrido, marrom, com suas margens decepadas, alargadas e cimentadas, para que as enchentes fossem controladas. No entanto, os alagamentos continuam e o rio perdeu seu charme "em nome do amor à..." Paulinho da Viola que não ouça essa blasfêmia!
Mas, voltando ao bloco, vi uma cena maravilhosa, onde uma das internas passava em frente à Catedral São João Batista e dizia "obrigada meu Deus por me dar essa memória!". Achei maravilhosa a frase, bem coerente! Na passarela, todos cantavam o samba igualmente coerente e emocionante. Um dos psiquiatras da Clínica Santa Lúcia estava fantasiado com uma túnica branca e azul, e, com um cajado na mão, ía abrindo caminho como um divisor de águas. Ele, com cabelos e longa barba brancos, fazia lembrar um ser que temos na memória.
Quando estava chegando ao fim o desfile, todos no bloco gritavam "Ah, eu sou maluco!!!" A pergunta que não quer calar é: quantas pessoas saíram da Clínica e quantas a mais entraram? Sim, porque isso já aconteceu. Será que aconteceu de novo ou isso é uma invenção do povo que adora dar um colorido à maluquez?

4 comentários:

  1. Ô BLOCO BOM!!!! A MÚSICA ERA ÓTIMA, TODO MUNDO SE DIVERTINDO SEM A MENOR PREOCUPAÇÃO, QUEM "É MALUCO" E QUEM "NÃO É". SOSÔ VOCÊ É DEMAIS, COMO ESCREVE BEM, SEU TEXTO É UMA VIAGEM. MUIIITO BOM.

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  2. o carnaval começou muito bem. O bloco maluco beleza e o bloco das piranhas, muito legal. O bloco maluco beleza fez um samba muito legal, falando da poluição do rio bengalas, ótimo. O bloco das piranhas com a Banda da Campesina, como sempre perfeita, só músicas de um tempo que era só alegria e sem violência. Ótimo, ótimo, ótimo.

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  3. Olá Soso
    Gostei muito do seu blog.A respeito do Rio Bengalas, segue a apresentação da minha tese de doutorado: "O curso da água na história: simbologia, moralidade e a gestão dos recursos hídricos"", a qual fala exatamente do Rio Bengalas e de minha hitória". Saudações, Elmo.

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  4. “O rio não precisa ser nosso;
    a água não precisa ser nossa.
    A água anônima conhece
    todos os meus segredos.
    E a mesma lembrança jorra
    de cada fonte”. Gaston Bachelard
    (L’eau et les rêves. Essai sur l’imagination de la matière)

    “Penetra o tempo a água em movimento
    desde os mananciais subterrâneos
    às nuvens inclinadas pelo vento.
    Nos longos céus, de esperas e de enganos,
    a água da memória vara o tempo
    em minutos, em meses, em mil anos.
    E permanece intemporal o rio,
    lançando ao tempo o eterno desafio”.
    Luciano Maia
    (Jaguaribe - memória das águas)

    Segue a apresentação da minha tese "O curso da água na história" (Autor: Elmo Rodrigues da Silva,tese defendida em 1998 na Fundação Oswaldo Cruz-RJ):

    APRESENTAÇÃO

    Gostaria de justificar o meu interesse em desenvolver o tema proposto, o qual foi resultante de minha preocupação com a problemática hídrica a ponto de conduzir a trajetória de minha vida profissional. Assumo, neste momento, o eu sujeito/observador/ator da vivência, a 1ª pessoa do singular que se identifica, e não se neutraliza, em relação ao objeto investigado. Assim, arrisco-me a tecer algumas considerações a respeito de minhas motivações, as quais se referem à minha própria memória histórica com relação à poluição das águas. Vários fatores me levaram a abandonar a profissão de engenheiro civil para me dedicar às causas ambientais, tornando-me um ‘especialista’, se assim posso dizer, em engenharia ambiental. Talvez, um fato marcante ocorrido em minha infância, em meados da década de 60, tenha sido o maior desses motivos, o qual relato a seguir.
    Vivendo às margens do rio Bengalas, em Nova Friburgo, quase todas as manhãs, descia à sua beira para contemplar os peixes, às vezes pescava, ou dava deliciosos mergulhos em suas águas ainda claras. Sob certo impacto, em um dia de inverno, me deparei com as suas águas tingidas de vermelho, com centenas de peixes: bagres, mussuns, lambaris, cascudos, flutuando inertes ou saltando desesperados no seu leito, refletindo uma triste imagem no espelho d’água do rio e da minha consciência. Nas suas margens, várias pessoas atônitas acompanhavam o cortejo mórbido da ictiofauna que anunciava o seu futuro destino: a cloaca máxima da cidade, fruto da total ausência de preocupação, ou sensibilidade, para com a poluição.
    Aqui utilizo como recurso, para melhor explicitar a minha vivência, as palavras de Capalbo (1992):
    “a intencionalidade da consciência mostra que esta é sempre temporal, que está aberta ao horizonte do tempo. No ato da imaginação este nos leva ao passado e à memória. O que já passou se faz lembrança do já vivido e é trazido [...] como perspectiva que se ante-abre, como possibilidade futura, ou seja, o futuro não é, mas pode vir a ser. Sartre se refere à temporalidade da consciência dizendo que ela é uma unidade que ‘escorrega pelas mãos’. O passado é [...] lembrança [que] revivida na presença do presente não é igual ao passado [...], pois já tem [...] uma série de [...] experiências que vão fazer com que essa lembrança revivida seja modificada. [...]. A consciência imaginativa, que nos dá a lembrança como componente do passado, é capaz de nos fazer revivê-la como passado trazido à presença do presente [e] nos lança em direção aos projetos futuros” (p.192-193).

    Essa experiência no passado, talvez tenha sido a minha maior justificativa para me dedicar, tanto na formação de mestrado, quanto de doutorado, à questão das águas como temática. Primeiramente, sob um ponto de vista mais específico, a tese de mestrado abordava um estudo técnico de alternativas sobre tratamento de efluentes, para a recuperação de um pequeno curso d’água, localizado em uma região rural, na Suiça. Agora, objetivo refletir sobre o tema, através de um entendimento mais geral e contextualizado historicamente, sobre as origens dos problemas relacionados à água, na atualidade, bem como de suas projeções futuras, ou seja, a antecipação planejada de nossa ação, por intermédio da gestão da água, a qual passa a ser vista como alternativa para o enfrentamento dos conflitos de uso e a possível escassez hídrica, tanto no presente quanto no futuro.
    A proposta desenvolvida neste trabalho tem como base a contextualização histórica, pois concordamos com Morin & Kern (1995) que “um mínimo de conhecimento do que é o conhecimento nos ensina que o mais importante é a contextualização” (p.12) de nosso objeto, mesmo que não consigamos atingir integralmente o conhecimento sobre o contexto que se insere o nosso objeto de pesquisa, nem ele próprio em sua totalidade. Assim, buscamos desvendar alguns ‘segredos’ da água, através de um ‘mergulho’ em indagações a respeito da problemática relação homem-natureza, podendo, muitas vezes, levar à destruição daquilo que nos é essencial, como a água, elemento constituinte da maior parte de nosso organismo e fundamental para nossa existência.

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